E ela ousava sempre calçar aqueles sapatos... Vermelhos!
E ela ousava se sentir bela!
Seria comum, se seus pés e pernas fossem notados por
alguém...
Mas como? Se era ali... Por baixo de uma cobertinha
quadriculada que aquecia suas pernas e pés que há muito se deixaram ser
esquecidos... Assim, sem movimento.
Ousava sim! Ousava ainda ser admirada, apesar da idade, das
rugas, das histórias...
E ela ousava ainda ir até o jardim e colher uma de suas
rosas vermelhas que também ousava continuar vivendo sem ser cultivada! Jardim
esquecido...Assim, sem movimento.
E ela ousava se
sentir bela!
Ousava ainda amar àquele que jurou amor eterno... e sua
cadeira empurrava.... se deixou ser esquecido pelo mundo em movimento por este
amor!
E ele ousado como só... rodopiava com ela naquele imenso
salão... que se deixou ser esquecido
depois de tantos movimentos que presenciara...
Este espaço que agora ainda ousara partilhar com o ousado casal
o último Tango... pois os ousados... um dia... também se cansam e descansam em
PAZ!